O bairro do Portão
- Origem do Nome: na verdade existem duas versões para o nome do bairro, a primeira é que bandeirante Onofre que se estabeleceu nesta área, colocou uma porteira na propriedade que se iniciava próximo onde hoje é o posto Horizonte;
- A Segunda Versão: No início da ocupação do local, se estabeleceram aqui três famílias, que ocuparam grandes áreas e nesta áreas haviam uma sequência de porteiras. Tanto é que no início o bairro levou o nome de Bairro Porteira, depois Porteirinha, até chegar no nome Portão;
- As primeiras famílias que aqui se estabeleceram praticamente fundaram o bairro. São os Poloni, os Leites e os Prados;
- Na verdade, no início não havia subdivisão (Maringá- Água Espraiada- Palmares), tudo era bairro do Portão;
- As concentrações de festas e rezas aconteciam na capela da Água Espraiada, um das antigas da nossa região, tem quase 300 anos. É importante fazer uma visita a ela, que no momento está sendo restaurada;
- A base da Economia local no início foram as carvoarias, depois a agricultura. Eu me lembro, por exemplo, que a cerca de 35 anos atrás, um Sr chamado Zelão Pomba descia da Água Espraiada com uma tropa de burros para arar a terra para os agricultores do Portão;
- As pessoas plantavam suas roças e quando chegava o período da colheita, faziam um mutirão, colhiam e depois passava um caminhão que levava o produto para São Paulo;
- Depois veio o período das construções, principalmente com o início do clube da montanha, que fortaleceu o começo das olarias.
Tereza Poloni
Não há como começar este meu texto sem deixar de falar da chegada de meus pais no bairro, isto se deu nos idos de 1967 mais precisamente em outubro. Meu pai havia vindo um tempo antes para dar uma sondada no lugar, pois aqui já estava morando um amigo dele, o João Bento, que pertencia a mesma cidade que meus pais nasceram, mas num primeiro momento meu pai ficou meio cauteloso, vieram então meus avós. A Dona Zefa que está viva e foi uma rezadeira de mão cheia e meu avô, Sr Nico para nós, nosso pai veio que mesmo sendo cego criou seus filhos na base do suor, do facão cortando cana e puxando enxada.
Meu pai era carreiro, minha mãe trabalhava na colheita do café, tendo uma pequena marca em minha barriga que segundo minha mãe é uma folha de café que caiu sobre minha barriga quando era criança. Nossa mãe levava eu e o Daniel e nos deixava deitados embaixo de um pé de café pára que pudesse trabalhar. Bom meu pai demorou um pouco a se resolver mudar, mas nós somos assim, demoramos um pouco a decidir mas quando decidimos, viramos a vida,viramos o mundo em festa, trabalho e pão.
Quem foi fazer a mudança de meu pai foi o Sr Antonio Leôncio (pai do Marcão Sanches) como dizem os paulistas até hoje, nós realmente não tínhamos muita coisa além das trouxas de roupa, mas meus pais tinham algo mais importante naquele momento: a fé, o Daniel e eu, e o mais importante, um sonho, e um homem quando tem um sonho ninguém segura. O 1º desafio de meu pai foi morar com a sogra em uma casa no alambique do Sr Jacinto Silveira. Ele trabalhou no alambique, cortando cana, e conheceu o Sr Lazico Oliveira, um homem que ajudou muito, deu uma casa pra ele morar.
Nós passamos parte de nossa infância nesta local. Lembro-me que ali havia uma bica de água, de onde bebíamos, tomávamos banho, e utilizávamos para fazer comida. Ao lado dessa casa havia uma capela onde sempre tinha reza. Com muito esforço, meu pai conseguiu comprar um terreno junto com meu tio onde ainda hoje é a nossa casa, na vila dos mineiros. Ali nasceram os meus outros dois irmãos, Ismael e a Jesuana. Outra pessoa que nos ajudou também foi a D. Bertina. A vila dos mineiros acabou virando uma verdadeira comuna, ali crescemos jogando bola no matinho, nadando nas cachoeiras do córrego Onofre, pescando lambaris e bagres para acrescentar na nossa comida, alguns amigos que brincávamos juntos (Tadeu, Vadi, Toninho, Gui, Rato, João Miguel, Faísca, Manga, Coragem, Cida, Paulo, Tiano, Nena, Geraldo). Dona Quininha foi nossa professora de Catecismo.Quando ficávamos doente, com íngua, furúnculos, cobreiro e outras doenças, o que nos curava eram as rezas da minha avó. Nossa mistura alimentar eram muitas vezes serraia, cambuqueira e alguns bagres e lambaris. Ainda outro dia estava contando pro meu filho que éramos meio índios. A noite quando fazia frio minha avó pegava uma bacia e fazíamos uma roda em volta daquela bacia, ali me lembro que as outras pessoas ficavam contando histórias de assombração, depois, pra dormir, dava um trabalho. Alguns locais assombrados no bairro: O matinho, a árvore onde a criança chorava, e o curupira que tomava conta da cachoeira, este curupira eu mesmo o vi duas vezes.
Nossos Heróis
Não havia energia elétrica, muito menos televisão, foi então que descobrimos que o Sr Batista Poloni, um senhor que tinha uma venda junto das quadras de bocha, onde hoje é a padaria, tinha uma televisão nos fundos da venda e deixava a criançada assistir os firmes (Zorro, Daniel Bonnie, James West). Depois de assistir televisão íamos nadar no córrego atrás da congregação que era onde hoje é a casa da Dona Irene.
Batista Poloni e Maria Poloni
O Comércio
Como falei antes, havia a venda do Sr Batista, venda do Fortico, venda do João Cardoso, venda do Sr Álvaro, venda do Nézio, Bar Reis, O Comercial, Ticão Barbeiro, bar do Masao, o Alambique e o Depósito Mendes.
As Olarias
As olarias eram uma forte fonte de renda no bairro pois a construção civil estava a toda no bairro, estavam começando o clube da montanha, o Maringá I, Santa Maria.
Quem não trabalhava na olaria, trabalhava nas construções, mais precisamente para o Sr Mendes, a quem eu acredito que o bairro deu muito mais a ele do que ao bairro.(Olaria do Antônio Prado, do Waldemar, do Zico Guatura, os Leoncios, Zé Ferreira, Tonico Guatura, Mario Franco
Nosso Timinho
Na vila tinha uns moleques bons de bola. Jogávamos a princípio no alambique, onde tinha um gramado bom. Naquele tempo, pra montar o nosso uniforme cada um pegava sua camiseta branca, tingíamos e depois colocávamos os números, que eram comprados e costurados nas camisas. Nossos adversários nas férias eram os moleques do clube da montanha, mas o adversário mais a molecada do portão. Havia um campinho atrás da casa da Dona Rosa, mãe do Jair, onde é a fábrica Tubos do Guina, outro campo era onde é a casa do Marcão da Kátia.
A bola é minha
A primeira bola boa que jogávamos com ela era uma bola de capotão nº 5 que o Ismael ganhou do Sr Renato Vila Verde. O engraçado que era só o time dele estar perdendo que ele metia a bola debaixo do braço e dizia que ia embora. Aí o pau comia.
Às vezes aparecia um menino para jogar com a gente, seu nome era Dimas e ele saia com uma cesta vendendo pastel e parava pra jogar bola, crescemos juntos.
Ismael (Dentinho) a sua irmã Zana.
A Escola
Minha mãe no começo vinha nos trazer no caminho no caminho para escola tínhamos de passar por duas olarias, minha mãe sempre falava que se soubesse que nós estávamos matando aula iria colocar a gente pra bater tijolo. Neste período, meu pai já estava trabalhando no clube da montanha de jardineiro para a dona Flora e para o Cavalari. Minha primeira professora foi a D. Marina, era época da ditadura e no dia do soldado, fazíamos boné de papel de seda e tínhamos de marchar em volta da escola. Lembro-me até da música que cantávamos em marcha:
“Marcha soldado cabeça de papel, se não marchar direito, vai preso no quartel.
Quartel pegou fogo, Francisco deu sinal. Acode, acode, acode a bandeira nacional!”
Na semana da pátria fita verde amarelo no avental.
Ainda não havia o posto de saúde, a escola também funcionava como posto. Era ali que tomávamos as vacinas. A prefeitura, na época tinha um rural cor de abóbora, e nela vinha a equipe para dar vacinas. Este rural era o verdadeiro terror pra criançada. Outra coisa que me lembro é da campanha contra o bicho barbeiro e também havia uns folhetos para arrecadarmos dinheiro para os sanatorinhos.
Como os tempos mudaram. Antes para fazer merenda tínhamos que levar couve, fubá, ovo, batata, chuchu, e quem faria a merenda era D. Josefina Leite, que pelo fato de ter muitos sobrinhos estudando na escola a chamavam tia Fina que com o passar do tempo acabou virando a tia Fina de todos que passavam por aquela escola.
Meu pai uma vez vendeu uma bicicleta para comprar material de escola para o Daniel.
Pamonha- Porco- Parma Benta
Na casa onde minha avó morava havia um terreno muito grande, ali geralmente as pessoas criavam porco de ameia.
O que é porco de ameia: juntava algumas pessoas compravam o porco, tratavam do bicho e quando estava no período de abater, o abatiam e todos se reuniam para limpar e comer o bicho, que era feito num fogão no terreiro ( faziam choriço, tripa frita, torresmo) o que sobrava cada um levava sua parte e guardava em uma lata com o óleo do próprio porco.
Com relação a pamonha era do mesmo modo, plantava e cuidava da plantação depois todos se reuniam para fazer a pamonhada.
Em épocas de chuvas fortes minha avó queimava Palma benta, a Parma benta era folha de coqueiro que levavam na procissão do domingo de ramos, aquilo realmente acalmava a chuva.
Sr Manoel Retratista
O Sr Manoel era um baiano que vinha de São Paulo uma vez por mês para tirar fotografias das pessoas do bairro. Eram aquelas fotos com binóculo, existe, inclusive, uma estória que uma mulher não deixava ninguém, nem seus sobrinhos chupar jabuticaba de um pé que ela tinha pois as jabuticabas eram guardadas para o Sr Manoel.
O Mascate
O Mascate morava na Santa Maria, ele comprava vários objetos em São Paulo e vendias para as pessoas do bairro, desde espelhinho, pó de arroz, até calças US TOP.
Caindo do burro
Brincávamos por estas matas fazendo cabana, armadilhas, voando de árvore em árvore através dos cipós. Em uma destas brincadeiras ao lado de nossa casa na Vila dos Mineiros o Sr Rubens deixava os cavalos pastando, até que um dia estávamos desbravando a cachoeira do morrão havia um burro junto aos cavalos e meu irmão Daniel desafiou todo mundo a montar no burro. Todos afinaram menos o Daniel, que chegou junto ao burro e foi conversando no pé da orelha do burro. Aproximou o burro perto da cerca. Aí, o Daniel subiu na porteira e de repente pulou em cima do burro. O burro saiu pulando feito louco, pulou o córrego e o Daniel em cima, até que de repente o burro derrubou o peão Daniel no chão.
Daniel (irmão de Josué) Próximo ao portão da casa (Josué)
Alguns de nossas diversões eram as vindas de circos e parques para o nosso bairro, era oportunidade das pessoas se encontrarem, havia música sertaneja, palhaços, malabaristas e os famosos astros do ringue. Estes últimos, quando vinham se apresentar, o dono do circo arrumava um caminhão e os artistas saiam fantasiados pelo bairro a convidar a população.
“hoje Fantomas enfrentará a poderosa Múmia!” Também tinha o King Kong. As crianças que não tinham dinheiro para entrada poderiam assistir os espetáculos mediante venda de maçã do amor, pipocas e bexigas.
Às vezes havia show de calouros. Me lembro do Tadeu cantando a música do Amado Batista, Rita, Ângela imitando a Gretchen e Dimas imitando o Sérgio Malandro.
O parque, lembro me de algumas situações engraçadas.
O Wilson Leite era um rapaz metido a conquistador, andava sempre bem arrumadinho. Um dia chegou um parque e se instalou onde hoje é o escritório de Jesus de Mari. Bem ao lado do córrego se instalou o chapéu mexicano, e lá foi o Wilson andar de chapéu mexicano e aquilo atingiu uma velocidade incrível. O Wilson despencou da cadeira e caiu no córrego.
O barquinho , esta situação já foi em um parque que se instalou ao lado do antigo campo de futebol e um casal do bairro foi brincar no barco, que consistia em dois assentos, um em cada extremo, havia uma corda no meio e você puxava e ele fazia um movimento de ir e vir. Mas se o camarada puxasse com muita força era perigoso e o Sr Reis puxou com tanta força que a corda e os ferros que sustentava o barco se romperam e o barco foi parar no campo de futebol com o casal.
A rainha do parque
Havia um sistema de rádio em que você oferecia música. Era em disco de vinil.
Havia uma menina que um amigo era apaixonada e quando esta menina estava no parque o disco até furava de tanto tocar uma música romântica de um cantor chamado Brian Adams.
Sem contar as mulheres que fugiam com os domadores, palhaços donos do parque...
O portão mudou, você mudou, mudei também
Hoje o portão tem grandes empresas de transporte, fábricas de artefatos de cimento, bons mercados, ótimas padarias, escolas municipais, escola estadual, escola particular, diversas igrejas, posto de combustível, pizzaria, restaurantes, academia, salões de beleza, etc, etc, etc.
Mas acabou a conversa na esquina, os bailes na casa da Tia Julia, na casa da Tia Fina, o padre Carlão, o Batatinha, a Paula mudou a Fátima foi pra Portugal...
Poluímos o Rio e a cachoeira que nadávamos, circo e parque não tem mais, nem Parma benta, nem pamonha, nem beijo roubado, nem futebol na rua.
Onde está você? Onde estamos nós?
Mas o Portão continua vivo em nossos corações e mentes.
A casa que o Sr. Lazico Oliveira, cedeu para o meu Pai morar quando chegamos no Bairro do Portão
A casa de meus Pais (Joaquim e Terezinha) na Vila dos Mineiros,
Bairro do Portão- Atibaia-SP.
Minha sobrinha Maria Katharina, se banhando na cachoeira do alambique, formada pelas águas do Córrego Onofre, onde eu, meus irmãos nadávamos e pecávamos durante a nossa infância.
Eu considero esta pretensão de livro ainda por terminar, pois espero assim motivar você a escrever sua historia também, e acredito que ainda posso recordar de muitas coisas, de amigos e sentimentos.
Dedico esta simples obra:
Aos meus pais Joaquim e Dona Terezinha.
Aos meus irmãos Daniel, Ismael (Dentinho) e Zana.
A minha esposa Tata e meu filho Icaro.
A minha amiga Daniela Salles Silva Viana que coloca pilha e acreditou que eu poderia escrever estas lembranças.
Ao Sr. Lazico Oliveira (in memória) que cedeu uma casa para meu Pai morar quando aqui chegou.
A Profª. Iete Rodrigues Reis que me ensinou a gostar de Historia.
Ao meu amigo João Norberto que ainda ira fazer a capa.
A Dona Catarina que me emprestaram algumas fotos e a Celi.
A minha sobrinha Marina que digitou os textos.
A todos meus amigos que passaram pela minha vida, que convivemos no dia a dia e aos amigos que ainda irei conquistar.
Abraços
Josué Cosmi Fernandes
Você conhece o valor de um homem
Pelas suas atitudes, não pelo quanto.
Pelas suas atitudes, não pelo quanto.
Ele tem em sua conta corrente
Nem pelas propriedades e automóveis
Que ele tem.
Frase do Sr.
Joaquim Roberto Fernandes
(meu pai)
Adorei o texto, continue postando essas histórias, que são muito legais, essa em especial, pois contou com a história do meu pai (Wilson Leite) no parque, com foto do meu avô (Felício Leite) que não cheguei a conhecer (nem por fotos), além da foto da minha bisavó (Tereza Poloni) e vários nomes de familiares. Adorei!!
ResponderExcluirMuito legal Josué, várias lembranças, a vida era muito dura naquela época, mas que era "bão" era. Abraço
ResponderExcluirAdorei as suas lembranças, pois mesmo que um pouco tardio eu estou atrás da minha historia...sou tataraneta de Benedicta Poloni e gostaria de saber mais sobre a família. Abraços e boa sorte
ResponderExcluir1968 ano em q nasci em Atibaia
ResponderExcluirMeu pai e mãe Antônio Henrique e Marlene trabalhavam em olaria aí no portão lugar onde aprendi a dar valor na simplicidade das pessoa com muito orgulho ,sinto falta de meus Pais mas nunca deixei os ensinamento muitos deles aprendido no bairro do Portão. Ainda tenho primos aí um deles era Natal primo de minha mãe, meu pai era da Cristã .
João Henrique (falecido )Paulo Henrique e meu Tio Leonil .todos os dias penso em minha família e meus amigos, um grande abraço Josué muito grato por ter postado .